sábado, 14 de agosto de 2010

Ronaldinho não pode errar

Bom dia, meu caro amigo internauta. Gostaria de agradecer por todos os comentários que têm sido postados ultimamente neste blog. Se isto não é sucesso, então não sei o que significa esta palavra de três sílabas.

Eu estava disposto a dormir tranquilamente na última sexta-feira, quando apenas ouvi o seguinte, no Jornal da Globo. A Narração é de William Waack:

“Na Europa, Ronaldinho Gaúcho é destaque positivo e negativo em torneio disputado em um único dia. Os jogos tinham apenas 45 minutos. No confronto entre Milan e Juventus, Ronaldinho fez um belo gol. Na decisão por pênaltis, contra o (sic) Inter, coube a ele a última cobrança, tentou a cavadinha... E enterrou o time. O título ficou com o (sic) Inter.”

Os sic´s que relatei no texto são um preciosismo xiita. Implicâncias, mesmo. É que ele estava se referindo à Inter de Milão, então deveria dizer que era “a” Inter, não “o” Inter. O Inter é o de Porto Alegre, aquele que está a disputar a final da Libertadores e que tem o Celso Roth, um gaúcho sem bigode, como técnico.

Mas esta fala originou este post por outra questão.

O torneio disputado em um único dia a que se referiu William é o troféu Birra Moretti. É um campeonato que reuniu, em Bari, três dos grandes italianos: Inter, Juventus e Milan. Cada jogo era disputado em um único tempo, e se acabasse empatado, a disputa iria para os pênaltis. O vencedor no tempo normal levava três pontos, o vencedor nos pênaltis somava dois, e o perdedor dos pênaltis ganhava apenas um.

- E o empate? Você se esqueceu do empate! – interrompe o leitor.

Não, amigo leitor. Não há empate, porque o empate leva aos pênaltis.

- Ah, é mesmo! Continue, por favor.

Pois não. No primeiro jogo, a Inter de Milão venceu a Juventus por um a zero. No segundo, Milan e Juventus empataram em um a um – quando Ronaldinho fez o gol mencionado por William. E na decisão por pênaltis, Ronaldinho bateu o pênalti muito bem, no ângulo. Uma cobrança que nem o Yashin num dia inspirado defenderia. O Milan venceu nos pênaltis e eliminou a Juventus.

E o último jogo, entre Milan e Inter, terminou em zero a zero. Este resultado dava automaticamente o campeonato à Inter de Milão, mesmo se o Milan vencesse a decisão por pênaltis – já que ambos empatariam com quatro pontos, mas a Inter levaria vantagem no saldo de gols. Então, as cobranças por pênaltis eram apenas figurativas – ou, como diria meu tio avô, para cumprir tabela.

O Milan já perdia a decisão por pênaltis por quatro a dois – Flamini havia errado – quando Ronaldinho tentou dar uma cavadinha espetacular e perdeu.

Por isso, ao contrário do que disse William, o Ronaldinho não enterrou o Milan. O Milan já estava enterrado, e ele resolveu brincar na última cobrança. Sim, porque não foi uma paradinha convencional – como a de Loco Abreu, Neymar e Djalminha. Foi uma cavadinha anabolizada: a bola não foi para o centro do gol, mas para o ângulo. Porém, acertou a trave, e William foi duro com ele no Jornal da Globo.

Por que tanta dureza com um gênio na hora da invenção? Parece que nos últimos tempos, a ousadia tem o êxito obrigatório. Porque se ele batesse normalmente e perdesse, não haveria grandes comentários, por certo.

Talvez Ronaldinho esteja enjoado de futebol por causa disso: porque só os medianos têm o direito de errar.

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