quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O abecedário da torcida brasileira apresenta: André, o palmeirense

O abecedário da torcida brasileira conta histórias mais ou menos verídicas.

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Tem histórias que aparentemente não fazem sentido. Vide o caso de Adão e Eva. Eles passaram anos, séculos reclamando de Deus, fazendo-O passar por vilão. Até que alguém explicasse à humanidade que Deus, o pai do amor, não seria tão mal à toa. Ele expulsou o casal nu do paraído porque comeram aquela maçã cultivada com tanto carinho por séculos a fio. Justamente aquela, a preferida do Todo Poderoso.

Pois bem. Uma coisa não fazia sentido na vida de André. Ele era um palmeirense tão fanático, a ponto de ser um carnívoro pelo mesmo motivo que os vegetarianos são vegetarianos. Quer dizer, pelo motivo contrário. Os vegetarianos comem vegetais pela compaixão que tem com todos os animais. André era carnívoro por compaixão com tudo que é verde.

- Como eu poderia comer um alface sabendo que ele é da mesma cor do meu Palestra?! – dizia, se exibindo.

Está certo. Se alface tivesse gosto de lasanha, ele encontraria outras formas de explicitar a devoção ao time. Mas também não fazia esforço para gostar do legume. E jurava a quem aparecesse, com argumentos convincentes e sociológicos, que Popeye é desenho mais diabólico do que aquele criado pelos nazistas.

Mas André nutria uma incerteza dentro de si. Ele teve um cachorro por quem teve uma paixão que só uma criança pode ter por um animal. André o imitava na forma de deitar, mesmo sendo anatomicamente desconfortável; latia para o barulho, ficando rouco várias vezes; e até comia ração de vez em quando, cujo gosto era mais pavoroso do que o do alface. Este cachorro nasceu em 1993, e tinha o nome de Cafu.

O leitor mais futebolizado deve estar percebendo a grande incoerência deste relato. Em 1993, Cafu era jogador do São Paulo, não do Palmeiras! Isso se disfarçava um pouco pela passagem que Cafu teve no Palmeiras em 1996. Mas o cachorro já tinha nome aos 3 anos de idade! Enfim, era um caso sério que secretamente lhe atormentava. Como pôde consentir com um nome são-paulino a seu cão? Será que aos 6 anos não gostava do Palmeiras tanto assim? Então ele não poderia dizer que era palmeirense desde criancinha?

A coragem foi-se juntando dia a dia como um porquinho que se enche de moedinhas ao passar dos anos. E chegou o dia de quebrar este porquinho de uma vez por todas. E perguntou à mãe:

- Mãe! Como eu deixei que o Cafu se chamasse Cafu se ele não jogava no Palmeiras?

A mãe achou graça da desmemória do filho:

- Você não deixou que ele se chamasse Cafu, André! O nome de verdade dele era Cafuzinho. Cafu pelo jogador do São Paulo, o time do seu irmão. E Zinho pelo jogador do Palmeiras!

Assim, a história completou o sentido para todos os sempres. Mas o principal é que André pôde voltar a torcer ao Palmeiras sem a culpa de um pecado original.

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