segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O time do jornalista



Ainda bem que Deus, entretido em sua engenharia, resolveu dar dedos aos pés. Porque é graças a eles que posso dizer com provas estatísticas que sou capaz de contar os leitores deste espaço utilizando meus próprios dedos! E é a todos estes leitores que peço um momento de tolerância para abordarmos um assunto jamais tratado aqui: sexo.

Não falaremos do sexo em si. Usaremos este assunto tabu somente como base para uma comparação futebolística.

Aliás, este blog é quase um sexagenário, e ainda não falou sobre sexo. Se a única fonte que um ET tivesse sobre a cultura humana fosse este blog, ele não saberia que nós nos reproduzimos sexuadamente. Assim como muita gente defende que o ensino sexual seja obrigatório nas escolas, eu proporia aqui que o assunto sexo seja obrigatório em todas as mídias que tratam de futebol.

Não porque sexo e futebol sejam as duas melhores coisas do mundo – se existe algo melhor do que lasanha, eu desconheço -, mas são os assuntos obrigatórios, para onde todas as conversas se encaminham. Pensem nos portugueses conquistadores em suas caravelas. Se não fossem o sexo e o futebol, eles não teriam do que falar.

Mas o futebol foi inventado apenas no século XIX – dizem os leitores mais atentos.

Não é bem assim. Se consultarmos os livros de Nelson Rodrigues, veremos que o clássico Fla-Flu surgiu quinze minutos antes do nada. E como o futebol surgiu aproximadamente 49 anos antes do Fla-Flu, podemos dizer que o futebol surgiu 49 anos e 15 minutos antes do nada. Portanto os portugueses das caravelas falavam, sim, sobre futebol.

Toda esta profunda introdução foi feita para explicar por que os jornalistas devem falar qual é o time pelo qual torcem.

Hoje, o que mais se vê, quando um jornalista é entrevistado (?!) é o entrevistador pedindo quase desculpas por lhe perguntar o time. Isso, quando este assunto é abordado. Geralmente, o entrevistador não toca nesse assunto, como se o jornalista time não tivesse.

Este é talvez um dos maiores absurdos da humanidade. Seria o mesmo que o doutor Jairo Bouer, após anos falando sobre sexo na televisão e em sua coluna no jornal, dissesse:

Sou virgem! Mas vocês podem ouvir meus conselhos sexuais, porque estudei muito sobre o tema.

Aqui não pedimos para que o jornalista fique falando sobre o time dele a todo instante. De novo, seria tão absurdo quanto a possibilidade de o doutor Jairo ficar dizendo sobre as posições preferidas dele e sobre as pessoas com quem se relacionou sexualmente.

E diferentemente do que o leitor e os jornalistas podem pensar neste instante, não é para que desconfiemos de favorecimento na abordagem dele sobre o próprio time. Até porque os jornalistas fazem exatamente o contrário: elogiam o time dos outros como se fossem verdadeiros carrosséis holandeses e criticam o próprio a todo instante como se um ataque capcioso e envolvente fosse uma reles Itumbiara. Justamente para não levantar suspeitas.

O jornalista deve dizer o próprio time unicamente para que o público saiba que ele, graças a Deus, tem um time. E que não fala de futebol da mesma forma com que um sexólogo virgem falaria sobre sexo.

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