quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

11 - O juiz vaidoso

Texto originalmente publicado na edição #13 da revista Invicto

A história a seguir é contada por Vagner Tardelli. E o leitor que espera um causo com gel ou brilhantina no meio, muito se engana, porque tudo aconteceu com Antônio Buaiz.

Buaiz apitava um jogo no Espírito Santo e não esperava que a leve chuva do começo da partida pudesse engrossar e tomar as proporções de uma tempestade. Ele começou a se preocupar com a qualidade do gramado e com a ausência de delicadeza dos jogadores que se aproveitam do piso escorregadio para executar jogadas de maior violência. Mas aos 40 minutos do segundo tempo esses problemas tornaram-se apenas secundários.

O capitão de uma das equipes lhe avisou que o bandeirinha certamente tinha sido atingido, já que estava com a face abundantemente avermelhada. Buaiz conferiu e, sobressaltado, chamou apressadamente um médico de uma das equipes para prestar os primeiros socorros.

Para a surpresa de todos, porém, o auxiliar não se queixava de dores. Pelo contrário, podia-se dizer que estava plenamente saudável. Ele estava era admirado por tamanha preocupação do médico e dos jogadores, que eram incapazes de olhar-lhe no rosto sem fazer careta ou comentar alguma coisa com os companheiros. De fato, o médico constatou que nada havia. Ao tocar-lhe a face, percebeu que aquilo não se tratava de uma lesão – era apenas tinta.

O auxiliar havia tingido o cabelo pouco antes da partida e a chuva surpreendeu a artimanha. A tinta não só saiu do cabelo, como se espalhou pelo rosto do bandeirinha, dando o falso efeito de ferimento. Já com a face limpa, o bandeirinha continuou com a cara vermelha – desta vez, ruborizava-se apenas por vergonha, como todo homem que tem sua vaidade pega em flagrante.

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