segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

8 - Times dos Famosos – Vavo, da banda Fresno


A banda Fresno é muito engraçada – não que eles queiram. Eles são uma banda emo, mas mesmo assim são bacanas. O vocalista usa decote, e mesmo assim ninguém desconfia de sua sexualidade. E dois quatro integrantes, dois são gremistas e os outros dois, colorados. E mesmo assim conversam, se divertem juntos, tocam juntos... Enfim, têm uma banda. Você consegue compreender o tamanho deste milagre?!

Entrevistei o Vavo, o guitarrista da banda, por e-mail. Ele teve pontuação recorde, até agora – passou Leão Lobo. O ponto perdido, que o separou do torcedor xiita, foi por motivos bobos – alguma falta de atenção com detalhes essenciais. Mas com incentivo e ensinamento, Vavo vira um xiita com certa tranqüilidade.

Aliás, estou até começando a achar que será preciso um número maior de questões pegadinhas, que diminuam a pontuação do sujeito. Para que o ruim tenha um ponto ou dois, e o xiita seja mais valorizado. Vamos ao teste, por favor.


1 – Tem camisa do time?
Resposta: Mais de 10.

Comentário: Ponto para Vavo. Porque o torcedor desse tipo não tem a camisa só para usar se um dia for campeão, ou se ganhou de presente, ou se as comprou num acesso consumista. Tem porque é um verdadeiro obcecado pelo time e, se pudesse, usaria o manto de segunda a segunda!


2 – Usa o manto no dia seguinte a uma derrota?
Já usei várias vezes, não vejo porque não usar.

Comentário: Aquele que não usa o manto depois de uma derrota é um verdadeiro herege. É o cristão que não defenderia Jesus quando ele foi crucificado, o americanizado que seria anti-americano quando Bin Laden atacou as torres gêmeas...


3 – Lembra-se de uma escalação do século passado?
Primeira final que eu fui no estádio, Copa do Brasil de 1992: Fernandez, Célio Lino, Célio Silva, Pinga e Daniel; Ricardo, Élson e Marquinhos; Maurício, Gérson e Caíco.

Comentário: Ponto com louvor. Lembrar-se de uma escalação inglória significa gostar do time sempre, até quando não se tem motivos aparentes.


4 – Freqüenta o estádio?
Sempre.

Comentário: O verdadeiro futebol se vê no estádio.


5 – Quanto foi o último jogo do time?
Sport 1 x 2 Inter.

Comentário: O Inter havia conseguido a virada aos 37 minutos do segundo tempo com gol de falta de Andrezinho, o que lhe daria chances de título.


6 – Costuma dizer que é torcedor do time?
Ah, eu vivo mostrando por aí sim que sou colorado!

Comentário: Isto é verdade. Até eu, que não sou um conhecedor profundo de Fresno, já sabia que ele é colorado. Porém, em sua biografia no site oficial do Fresno, não há nada dizendo que Vavo seja colorado. Deixemos isto passar em branco. Ponto para ele.


7 – Torce para o time desde criança?
Poucos sabem disso, mas eu fui gremista até os 3 ou 4 anos porque minha família inteira era gremista. Não lembro dessa época, só por foto. Mas na Copa União de 1988 eu já torcia pro Inter. Ninguém na minha família sabe explicar porque eu "troquei" de time...

Comentário: O que pode parecer a um primeiro momento um golpe de sinceridade, conta contra Vavo. Tudo bem que ele não tinha consciência, aos 4 anos, do que significa para um colorado torcer para o Grêmio. Embora torcer desde os 5 anos para o time já seja uma grande coisa, Freud explica que há sementes plantada em nosso inconsciente desde nossa mais tenra infância. É por isso que Vavo perde meio ponto.


8 – Torce contra o rival?

Já fui mais secador, mas agora estou mais calmo. Ainda mais morando em São Paulo, onde não tem gremistas para me incomodar. Às vezes só fico sabendo o resultado do jogo do Grêmio no dia seguinte.

Comentário: Aqui ele perde meio ponto. A distância geográfica não pode ser desculpa para deixar de torcer contra o rival. Lembremos que torcer para um time significa torcer, automaticamente, contra o maior rival.


9 – Se tivesse que escolher namorar entre uma garota que torce para o seu time e outra que torce para qualquer outro, qual delas você escolheria?
Eu namoro uma corinthiana! Mas time não é problema pra mim, acho que não tem nenhuma relação.

Comentário: Ponto para ele. Colocar a situação clubística na escolha amorosa é uma grande bobagem. É preciso reconhecer que há grandes idiotas que torcem para nosso time, enquanto há gente grandiosa torcendo pelos rivais.


10 – Você assiste a todos os jogos? Chega a escutar no rádio quando o jogo não é transmitido pela TV?
Como muitas vezes estamos viajando com a banda, é comum eu assistir o jogo pela internet em sites de rádios de Porto Alegre.

Comentário: Grande Vavo! É muito fácil assistir a todos os jogos do time quando eles passam na TV aberta, de bandeja. Morando longe, ele cumpre bem a obrigação, apesar das grandes dificuldades. Mereceria ponto extra, mas o regulamento não prevê ponto extra para esta questão.


11- Se por um acaso a vitória do seu time favorecesse o rival, gostaria que os jogadores entregassem o jogo?
Não acho isso digno. Se eu fosse jogador, não conseguiria fazer isso.

Comentário: Dizem na TV que o torcedor pode querer o que for, que está sempre com a razão. Como se ele fosse o freguês de uma empresa. Muito pelo contrário. Se o time fosse uma empresa – e não é – o torcedor seria o sócio dela. Por isso, também o torcedor não pode querer que seu time faça aquilo que não seja íntegro.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

7 - Outra versão sobre o rádio de Garrincha na Europa

Todos conhecem a história. Garrincha estava na Suécia, e quis comprar um rádio para trazer ao Brasil. Precavido, quis testá-lo antes de efetuar o pagamento, para ter a certeza de que estaria funcionando. A decepção foi grande: o rádio só falava na língua local, o sueco. Mas parece que não foi exatamente isto que aconteceu.

Ruy Castro escreveu uma apuradíssima biografia de nosso Mané Garrincha. Nela, ele desmente peremptoriamente essa história e conta outra, totalmente antagônica. Segundo Ruy, Garrincha jamais pensou que um rádio fabricado na Suécia só pegaria as rádios suecas. Tanto é, que chegou a comprar vários rádios para presentear seus amigos e familiares.

A história que deu origem ao boato é, na verdade, uma brincadeira que Garrincha fez com seu companheiro de Botafogo, Hélio. Conta, Ruy:

“Foi Hélio quem comprou o tal rádio numa loja em Copenhague e, ao ligá-lo no hotel, ouviu de Garrincha:

‘Mas sua família fala essa língua, Hélio?’

Hélio não entendeu a pergunta. Garrincha, sério, explicou:

‘Se você não trocar as válvulas quando chegar ao Brasil, ninguém vai entender o que o locutor está falando. E lá não tem pra vender dessas válvulas’

Hélio ficou desapontado e disse que ia à loja devolver o rádio. Não se sabe se efetivamente foi ou conseguiu devolvê-lo – mas Garrincha não o comprou, nem o vendeu, nem precisava disso.”

6 - Histórias de Garrincha

Dizem que, assim como a mãe de todas as virtudes é a gratidão, a dos defeitos é a ingratidão. Porque aquele que não consegue nem ser agradecido com aquele que lhe prestou favor, certamente é um egoísta incapaz de outras virtudes.

Pois eu estava olhando meu blog, e percebi uma coisa chata: Garrincha só está no nome.

Poxa vida. O homem ganha duas copas do mundo para meu país, empresta o nome para meu blog sem cobrar nada, e eu sequer falo dele aqui?! Agora será diferente.

Inaugurarei uma sessão em que falarei coisas da vida e do futebol de Garrincha. A fonte será, sempre, o livro Estrela Solitária – um brasileiro chamado Garrincha. Esta é a maior fonte confiável que temos daquele que foi um de nossos maiores jogadores.

O leitor que acompanhar este blog poderá, ao longo do tempo, conhecer algo a mais daquele homem que tinha a virtude mais rara de um jogador de futebol: além de ser eficiente, era também divertido. É um pecado esquecer Mané. Até porque a memória é a mãe de todos os neurônios, ora!

sábado, 19 de dezembro de 2009

5 - Pontos Corridos x Mata-mata – Candinho

O depoimento de Candinho em mp3


Você deve conhecer o Candinho. Acho, até, que já torceu por ele. Em 1996, era Candinho o treinador que levou a Portuguesa ao vice-campeonato – perdeu no finalzinho para o Grêmio. Em 1997, treinou o Corinthians com uma missão tosca e ingrata: tirar a equipe da zona do rebaixamento a apenas três rodadas do final. Conseguiu. Depois foi auxiliar-técnico de Luxemburgo na seleção, e chegou até a treinar ele mesmo um jogo: Brasil 6 x 0 Venezuela.

Teremos a opinião de Candinho, e devemos observá-la com respeito. Uma das regras não ditas do futebol é a de que a opinião de uma pessoa mais velha vale mais, indiscutivelmente, do que a de uma mais nova. Porque futebol é, em sua essência, intuição e experiência. E isso Candinho tem em abundância. Vamos ao depoimento dele:

“Eu sou a favor do mata-mata. Porque chega no final do campeonato, em que os clubes que não têm mais interesse, e botam reservas, vão jogar em Campinas, como o Corinthians foi jogar com o Flamengo. E isso prejudica. No mata-mata não acontece essas coisas. Agora, a pessoa se desinteressa e prejudica terceiros. Se o Corinthians joga com o flamengo no Pacaembu, é uma pressão muito maior. Aí acabou prejudicando o inter, o São Paulo. Quer dizer, essas coisas mudam o que pode ser campeão. Então sou a favor do mata-mata porque no mata-mata não tem isso. Se você pegar os quatro clubes que chegaram, Palmeiras, Flamengo, São Paulo e inter, e fizesse um mata-mata entre os 4 agora, os outros clubes poderiam jogar e não interferiria. A pessoa vai dizer que no pontos corridos ganha o melhor porque teve mais regularidade. Mas quando chega no final não é mais regularidade. É beneficiado pelos outros que não têm mais interesse em ganhar. E a emoção do mata-mata é muito maior. Agora, eu sou a favor do mata-mata com quatro clubes. Antes era do primeiro ao oitavo. Aí o campeonato se arrastava demais, e todo mundo não se interessava muito, porque classificavam até 8, né? Os quatro primeiros é que iriam pro mata-mata, aí todo mundo ficava interessado, né? Aí ninguém ia entregar jogo para ninguém.”

Então Candinho é um mata-matense roxo! Seria porque quando sua Portuguesa chegou a vice do Brasileiro de 1996, a fórmula de disputa era a de mata-mata? Lembre-se. A Portuguesa conseguiu somente se classificar como oitava colocada na última rodada. Se fosse um campeonato de pontos corridos, aquele time teria passado em branco. E para o torcedor da Portuguesa, nomes como Rodrigo Fabri, Clêmer, Capitão, Alex Alves e o do próprio Candinho, seriam equivalentes aos de Johnson, Celsinho, Kléber e Gléguer. Seriam outros bons jogadores em um ótimo grupo com um bom técnico que, de novo, não conseguiriam nada. Mas só não foram campeões por um detalhe aos 36 do segundo tempo. Acontece. Ainda mais com a Portuguesa.

Fora isso, os argumentos de Candinho são respeitáveis e consistentes, a ponto de promover a virada do mata-mata! O primeiro gol sofrido pelos pontos-corridenses se dá quando Candinho diz que os times que não disputam mais nada no final do campeonato atrapalham aqueles que ainda têm aspirações.

O Campeonato de 2009 abriu esta ferida. Até a 35ª rodada, todos os times tiveram que enfrentar o Corinthians no Pacaembu. Lá, a torcida exerce uma grande pressão e, pombas, é a casa do Corinthians! Porém, ao enfrentar o Flamengo, o Corinthians passou o jogo para Campinas. Numa partida em que todos os outros adversários enfrentaram milhares de corintianos , num estádio em que os jogadores já estão acostumados, o Flamengo dividiu a torcida, num estádio estranho aos dois. E ainda há rumores de que, não bastasse isso tudo, o Corinthians facilitou deliberadamente para o Flamengo, a fim de prejudicar seus rivais – Palmeiras e São Paulo, que ainda disputavam o título. Aconteceu também com o Grêmio. Há quem diga que os gremistas jogaram com afinco e até tentaram ganhar. Mas eram os reservas.

Este é um duro golpe no sistema de campeonato que se julga o mais justo. Ele seria, se todos fossem leais até o último instante. 1 a 1.

Além disso, Candinho tocou em um ponto bastante discutível. Disse ele que no mata-mata há maior emoção. Não sei dizer se uma final é realmente mais emocionante do que uma rodada com quatro times disputando o título. Talvez pela atmosfera de uma final. Ou então pela certeza de que o campeão sairá daquele determinado estádio, após aquele juiz apitar o fim. Aí, sim.

Eis a virada. Pontos corridos 1 x 2 Mata-mata

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

4 - Pontos Corridos x Mata-mata – Freddy Rincón

O depoimento de Rincón em mp3



Freddy Rincón já esteve em muitos lugares. Já esteve no Palestra Itália defendendo o Palmeiras, e no Pacaembu jogando pelo Corinthians. Pela seleção colombiana já conseguiu vencer a Argentina fora de casa por 5 a 0, mas fracassou quando jogou pelo Real Madri pelo racismo de seus próprios torcedores. Rincón já morou em casas luxuosas em São Paulo, mas já passou tempos na prisão.

Ele era um jogador raríssimo. Porque há uma lei física que um jogador dificilmente consegue superar: ou se é robusto e moroso, ou se é leve e fraco. Mas como um hipopótamo delicado, ou uma formiga forte, Rincón era fortíssimo e ágil. A habilidade dele se assemelhava à dos melhores atacantes, e a capacidade de marcação e noção de espaço dele era a de um digno volante. Então era muitíssimo capaz para defender, e atacava com qualidade ímpar.

Um homem com esta experiência deve ter uma boa opinião sobre a escolha entre pontos corridos ou mata-mata, não é? Também começamos com a visão de um estrangeiro que, mesmo depois de encerrar a carreira futebolística, vive no Brasil, para termos uma visão externa e, ao mesmo tempo, apaixonada sobre nosso tema.

“Olha, eu acho que o importante é criar a emoção do público. Eu acho que o pontos corridos está há dois ou três anos no campenato brasileiro e está se tornando cada vez mais importante. Na verdade, eu acho que é pelo público, mesmo. Que é por adaptação, que o público se adaptou ao pontos corridos. Acho que prefiro o pontos corridos. E é como se fala na gíria, né? Em time que está ganhando não se mexe.”

Então Rincón é um ponto-corridense. Há algumas pesquisas concordam com o argumento dele, e apontam que os brasileiros realmente preferem os pontos corridos. A TNS Sport Brasil, após ouvir 8018 pessoas por todo o país, apontou que 53,3% preferem os pontos corridos, 36% o mata-mata, e para 10,7%, a fórmula de disputa lhes é indiferente. Vi isso no blog do Juca Kfouri.

A manutenção de uma fórmula de disputa convincente e popular é muito importante para a legitimação de um torneio. Tanto que está previsto no Estatuto do Torcedor que um campeonato precisa, necessariamente, adotar a mesma fórmula por, no mínimo, dois anos consecutivos.

E assim, com gol de Freddy Rincón, os pontos corridos saem na frente nessa disputa. 1 a 0.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

3 - Torcer pelo Santos


Está decidido. Por sete votos a seis, se Peter Griffin tivesse nascido no Brasil, o time dele seria o Santos.

Como santista, é bom que Peter saiba que torcer pelo Santos é saber que alegria tem preço.

Quando Pelé chegou ao Santos em 1956, a cidade aliviou-se. Era a certeza de que aqueles anos de profunda inferioridade à capital estavam terminando. Para ver o campeão, os paulistas precisariam descer a serra. Para ver o rei, os cariocas teriam que cruzar a Rio-Santos – que nem existia à época.

Não houve quem não se encantasse com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Aquele time, um escrete com pedigree, deu, em 1962 e em 1963, o título de melhor do mundo ao alvinegro praiano. Mas isto apenas confirmava o que já era de conhecimento universal. Aliás, quando aquele time não era campeão, tinha-se a certeza de que alguma injustiça se passara no meio do caminho. E hoje vemos alguns títulos ganhos por outrem com o mesmo espanto de um concurso literário dos anos 30 em que Fernando Pessoa participou e perdeu para um desconhecido.

Mas Pelé foi embora. E o time não ficou apenas sem seu principal jogador. Ele perdeu também todo aquele incremento que a presença de Pelé dava a seus companheiros. Não havia jogador inseguro ao lado de Pelé. A habilidade do rei era, desculpe, contagiante. Os jogadores de belíssimo passe começaram a errar irritantemente, os gols feitos já não eram tão feitos assim. Até o goleiro! Até ele começou a falhar em lances antes tão simples.

O Deus medo prevaleceu no coração do santista. E fez pagar em dobro toda a volúpia e todo o prazer. Os aproximadamente 15 anos com Pelé e títulos foram pagos com quase 30 sem os dois. A Vila Belmiro, antes palco de vitórias e júbilo santista, virou lugar de incertezas e saudade. É por isso que o torcedor santista virou, ora veja, viúva de Pelé.

Pelé tornou-se a defunta do coração preto e branco. E de tanto caçoarem da morta, surgiu, em 2002, seu verdadeiro filho – Robinho, trocado na maternidade com Edinho -, que prometia cumprir tudo à Sua semelhança. Os tempos são outros, e Robinho ficou por apenas três anos no Santos. E não jogou tão bem quanto Pelé. O santista, porém, sabe que isto é motivo de alegria e comemoração.

“Ainda bem que ele não foi tão bom quanto Pelé”, ouve-se na Vila Belmiro, “e aquele time não chegou a ser bi-campeão do mundo. Senão, teríamos a certeza de que seriam mais trinta anos, trinta!, de desespero e angústia”.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

2 - Pontos Corridos x Mata-mata


Desde que o Campeonato Brasileiro passou a ser disputado no sistema de pontos corridos, em 2003, há sempre a discussão sobre qual fórmula é a melhor: a atual ou a anterior? Inicialmente a conversa foi comedida, em que os pontos favoráveis a cada estilo eram dispostos racionalmente, mas aconteceu com esta discussão o que ocorre com todas as outras. Rapidamente, houve a divisão entre dois times – o dos ponto-corridenses e o dos mata-matenses.

Então onde se viam argumentos frios e calculistas, agora só há alegações peremptórias e intolerantes. Qual um corintiano que não consegue ver a beleza do verde, ou do palmeirense que não consegue ver o preto e branco sem sentir o corpo inteiro tremer, quem prefere os pontos corridos não admite mais nenhuma das qualidades do mata-mata, e quem prefere o mata-mata refuta, rapidamente, qualquer argumentação ponto-corridense, por mais pertinente que ela seja.

É bom que o leitor saiba que já fui partidário dos dois times. Assim que deixaram os pontos-corridos, fiquei horrorizado que nosso campeonato fosse privado de uma final. Depois, fui me acostumando, e passei a considerar a possibilidade de que a final poderia, sim, ser substituída por vinte jogos simultâneos aos domingos. Mas hoje, a saudade da final anda batendo forte, ao mesmo tempo em que me apeguei aos pontos corridos. Ou seja: se deixasse os pontos corridos, sentiria falta dele, mas continuando do jeito que está, fico com saudades do mata-mata.

O nosso jogo funcionará assim. Ouvirei vários depoimentos. Cada argumento favorável que nosso entrevistado oferecer contará como um gol para a equipe dele (Pontos corridos ou Mata-mata). Se ele apelar, estará jogando contra o próprio time, desconsiderando um argumento favorável anterior, então contará como um gol contra a favor do adversário.

No final, a equipe vencedora contará com mais um adepto: eu.

Estamos entendidos?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

1 – Horóscopo dos futebolistas – Sagitarianos


Arrisco dizer que o signo de sagitário é um dos mais raros no meio futebolístico. Estive pesquisando para iniciar este post, e dos 388 jogadores e técnicos consultados, apenas dezenove (4%) são sagitarianos. Também pudera: sagitarianos em excesso podem estragar um time.

Tratando o time como um prato de comida, e o sagitariano como o sal, podemos dizer que cada sagitariano é uma pitada de sal. Então, ao preparar uma equipe, costuma-se preferir por errar pela falta a correr o risco do erro pelo excesso. Ora, assim pensam nossos dirigentes: é possível engolir uma comida sem sal, mas comê-la muito salgada é praticamente impossível. Porém, não nos esqueçamos: o sal que pode estragar uma refeição é, ao mesmo tempo, essencial para que ela seja deliciosa.

O boleiro sagitariano é aquele que faz o que for necessário para realizar seus objetivos. Treina a mais do que o comum para ajustar um detalhe que talvez nem faça falta, como Muricy. Inventa um treinamento novo, como Valdir Joaquim de Moraes. Ou então, traça metas e as cumpre com afinco, como Keirrison, que sempre teve uma meta clara: vestir a camisa do Barcelona.

Eles costumam cativar pela sinceridade, mas é a sinceridade também que os repele. Lembra do Djalminha? Ele tem a sinceridade como a maior qualidade e o maior defeito. Os palmeirenses se encantaram com ele em 1996, quando não tinha pudores em menosprezar, sinceramente, os adversários. E em 2005, os mesmos palmeirenses sentiram muita raiva de Djalminha, quando ele disse que não jogaria naquele time repleto de pernas de pau.



Vamos ao time dos sagitarianos, que, apesar de conter talentos irrefutáveis, falharia indubitavelmente. Seria o time mais salgado já visto.

Para treinador, teríamos quatro opções. Rubens Minelli, Muricy Ramalho, Ricardo Gomes e Oswaldo de Oliveira. Ricardo é ainda inexperiente, então seria auxiliar do auxiliar. A dúvida ficaria entre Muricy, Oswaldo de Oliveira e Minelli. E é uma dúvida dificílima de se desfazer. Se Muricy conquistou os últimos três campeonatos brasileiros pelo São Paulo, Rubens também foi tri-campeão brasileiro (em 76 e 77 pelo Inter, e em 78 pelo São Paulo) e Oswaldo foi campeão Brasileiro e Mundial pelo Corinthians. Mas é antes dos anos 70 que encontramos o trunfo de Minelli: ele ganhou um Robertão pelo Palmeiras. Aí ele passa Muricy. É o tetra ganhando do tri. Então sobraria Minelli e Oswaldo.

Aqui, temos que analisar a relevância de cada técnico em cada título conquistado. Oswaldo, em 99, possuía um time com mais estrelas do que um céu. E os adversários eram fracos. No ano 2000, foi campeão mundial pelo Corinthians em cima do Vasco que possuía Edmundo, o que é um grande feito. Mas Minelli merece a vaga porque ele foi um dos únicos capazes a realizar a grande proeza, em 1968: derrubou o time de Pelé.

Minelli de técnico, Muricy de auxiliar, Ricardo Gomes de auxiliar do auxiliar e Oswaldo de Oliveira como auxiliar do auxiliar do auxiliar. Oswaldo seria o primeiro auxiliar, mas ele foi sendo rebaixado nas funções e não demonstrou o menor sentimento.

Para o gol, temos cinco goleiros. Dois de nível excepcional, e outros três de alto nível, mas que, pena!, não chegaram a ser craques. Estes são Francesco Toldo, Fernando Henrique e Fábio Costa. Somente um deles poderá ir para o banco de reservas como segundo goleiro. Escolheremos Toldo, que já está acostumado com a reserva, e também por não correr riscos de ser expulso. Fernando Henrique seria melhor que ele, porém não poderemos dar a vaga a alguém que comemora defesas – então ele não será sequer relacionado.

A disputa pela titularidade será acirrada. Valdir Joaquim de Moraes contra Castilho. Bem, se Valdir Joaquim de Moraes compensou a baixa estatura com o melhor posicionamento de goleiro que já se viu em nossas terras, Castilho fazia milagres. Se Moraes foi imortalizado com todo o time da primeira academia com seu reflexo ágil e impulsão fenomenal, Castilho tinha, além disso tudo, sorte – seu apelido era Leiteria. Mas isto não bastaria para tirar a posição de alguém como Valdir. Teremos que decidir por um critério injusto, já que fazer justiça aqui seria dar a 12 a quem só merece e conhece a 1.

Castilho ganha de Joaquim pela idade. Nasceu quatro anos antes. E Valdir, para não ficar no banco angustiado pela chance de jogar, será o preparador de goleiros, posição que ele mesmo inventou.

Depois disso, o time segue sem muitos mistérios. Fábio Rochemback assume a lateral direita. Ele não gostou da improvisação, mas desfez o beicinho quando logo no primeiro treinamento percebeu que jamais poderia sonhar em disputar posição com o meio campo de Heitor, Rubens, Pedro Rocha e Djalminha.

A zaga se completa com Mauro Galvão e seu cabelo capacete e Ronaldo Angelim, o único pereba do time. A lateral esquerda é de Xabi Alonso, já que também não temos sagitariano específico da posição.

Como já disse, o meio campo é fenomenal. Heitor e Rubens cadenciam o jogo, mas não defendem. Pedro Rocha e Djalminha atacam, mas não marcam. Você começa a perceber que não é somente pelo signo que este time não dará certo. Custou muito para convencer Djalminha que a 10 era de Pedro Rocha. Djalminha argumentou que jamais jogou com um número inferior ou superior a 10.

- Mas Djalminha... O Pedro é mais velho.

Novamente, a idade foi decisiva.

No ataque, Tesourinha e Michael Owen. A nove é de Tesourinha. Owen está tão deslumbrado com o contrato com o Manchester, que não se importa mais com esse tipo de coisa.

Keirrison não está relacionado por alegar uma contusão no dedinho do pé esquerdo. Giggs também está fora para não ultrapassarmos o limite permitido de estrangeiros na equipe.

Eis nossa escalação:

1 - Castilho 27/11/1927 (Fluminense)
2 - Fábio Rochemback 10/12/81 (Inter, Barcelona e Grêmio)
3 - Mauro Galvão 19/12/1961 (Vasco e Grêmio)
4 - Ronaldo Angelim 26/11/1975 (Flamengo)
6 - Xabi Alonso 25/11/1981 (Barcelona)
5 - Rubens 24/11/1928 – (Flamengo e Vasco)
8 - Heitor 20/12/1898 (Palmeiras)
7 - Djalminha 9/12/1970 (Palmeiras, Guarani, Flamengo e La Coruña)
10 - Pedro Rocha 3/12/1942 (São Paulo)
9 - Tesourinha 3/12/1921 (Internacional)
11 - Michael Owen 14/12/1979 (Liverpool, Real Madri, Newcastle e Manchester United)

Técnico: Rubens Minelli
Auxiliar técnico: Muricy Ramalho
Auxiliar do auxiliar Técnico: Ricardo Gomes
Auxiliar do auxiliar do auxiliar técnico: Oswaldo de Oliveira
Preparador de goleiros: Valdir Joaquim de Moraes

Banco de reservas
12 - Francesco Toldo 2/12/1971 (Inter de Milão)
21- Fábio Costa 27/11/1977 (Vitória, Santos e Corinthians)
17 - Palhinha 14/12/1967 (São Paulo, Cruzeiro)
16 - Liédson 17/12/1977 (Corinthians, Flamengo, Sporting)
15 - Aristizábal 9/12/1971 (São Paulo, Cruzeiro, Coritiba)
77 - Carlos Alberto 11/12/1984 (Fluminense, Botafogo e Vasco)

Não relacionados
Fernando Henrique 25/11/1983 (Fluminense)
Ryan Giggs 29/11/1973 (Manchester United)
Keirrison 3/12/1988 (Coritiba, Palmeiras e Benfica)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

11 - Horóscopo dos futebolistas

Sempre que desejamos nos referir ao comportamento de nossos jogadores e técnicos, não passamos de teorias relativas a humor, classe social, classificação do time, local de nascimento... O mundo se desenvolve cientificamente a ponto de objeto de um computador viajar a uma velocidade maior que a da luz, mas no futebol ainda estamos sujeitos a amadorismos e crendices do tempo da minha avó! É por isso que agora teremos esta seção, Horóscopo dos futebolistas, que explorará o comportamento de nossos jogadores e técnicos sempre pelo visão do horóscopo.

Creio que enfrentaremos forte rejeição no início, já que este, reconheçamos, é um ambiente predominantemente feminino. Mas assim como o sagitariano Valdir Joaquim de Moraes enfrentou reações exaltadas quando começou a treinar goleiros especificamente, mas isso anos depois esta tornou-se uma prática comum, assim como o aquariano Rinus Michels sofreu muito mal olhado quando inventou a linha de impedimento, mas hoje é difícil ver uma equipe que não a utilizei, dessa forma o horóscopo futebolístico enfrentará grande rejeição no início, mas tenho a certeza de que os mesmos que o rejeitarão agora, utilizar-se-ão dele no futuro com argumentos irrefutáveis.

Você deve saber que há doze signos divididos pelo horóscopo. Toda vez que o calendário mudar de um signo para outro, teremos um post sobre o novo signo, com explicações dos comportamentos dos jogadores e técnicos e, por que não?, com previsões sobre o mês que terão pela frente.

O principal, porém, será a eleição do time de cada signo, com técnico e jogador certo para cada posição!

Também poderão surgir posts esparsos durante os meses, mas não esperem por eles.