quinta-feira, 29 de outubro de 2009

11 - O juiz apaixonado

Há o juiz apaixonado, cujo nome infelizmente não pode ser revelado. Não sei por quê. Há gente que se vangloria de trair, vestindo, em um curto espaço de tempo, camisas de equipes rivais. Há os que exibem, entusiasmados, o cabelo tingido com a cor da equipe do coração. Há os que vestem, sem pudor, uma camiseta da Britney Spears no meio da torcida do Flamengo. Há até torcedor orgulhoso do Íbis! Mas o juiz da história a seguir não quis revelar o nome “nem amarrado”, disse, imitando Dilma.

Ele era um apitador exemplar. Aplicava as regras sempre com um rigor próximo à perfeição, que se equilibrava entre a austeridade e a clemência; deixava o jogo fluir, mas marcava as faltas capitais; aceitava as reclamações justas, mas punia com o cartão amarelo aqueles que tentavam influir em sua imparcialidade; até a postura ereta, que despertava confiança, ele tinha. Enfim, podia-se dizer, sem dúvida, que ele era um justo.

Mas não se pode esperar que alguém seja perfeito – quanto mais um juiz. Começou a acontecer com nosso árbitro algo curioso: ele parou de permitir os acréscimos. Não importava a cera que um time, valorizando a vitória apertada, fizesse. Ou o número de substituições, as contusões inevitáveis, as comemorações de gol que extrapolassem o tempo. Nada. O cronômetro mal marcava os 45 minutos, e já se ouvia o apito final.

Os comentaristas reclamavam, exercendo sua função primordial. Por que essa obsessão pelos 90 minutos? Por que acabar aos 45, se poderia muito bem estender até os 48? A cada comentário desse tipo, uma mulher, do outro lado da cidade, estremecia. Era a namorada do árbitro.

Essa mania começou num dia em que os dois brigaram feio. Ela argumentava que ele dava mais importância ao trabalho do que a ela. Ele dizia que era obrigado a trabalhar com este afinco para sustentar o casal, poxa vida.

O juiz apaixonado, para demonstrar que queria chegar logo em casa para ver a amada, parou de permitir o tempo regulamentar. É claro que seis minutos (três em cada tempo) não aliviam tanto a saudade assim. Mas a mulher guardava todo recorte de jornal com as reclamações da falta do tempo extra como verdadeiras declarações de amor. E escutava “encantadíssima” cada resmungo dos comentaristas.

10 - Juiz malandro

Conta-se a história de um técnico que ousou reclamar ao juiz, argumentando que viu pela televisão no vestiário durante o intervalo, o Godói – comentarista de arbitragem da TV Bandeirantes – dizendo que seu time havia sido prejudicado. O juiz nem terminou de ouvir, e já gritou com força máxima que se o Godói falou isso, o Arnaldo César Coelho – comentarista de arbitragem da TV Globo – entendeu exatamente o contrário! E não satisfeito com o impacto causado, lembrou que a audiência da Globo é muito maior que a da Bandeirantes. Portanto, quem estava certo para a opinião pública era ele, o árbitro.

Um detalhe que cabe ressaltar é que nem o Godói, muito menos o Arnaldo, trabalharam nas transmissões daquele dia.

9 - O juiz com peso na consciência

Ninguém entendeu quando um juiz que saiu correndo de um super mercado, deixando carrinho cheio no meio do corredor. Nem a esposa, aquela que dormia com nosso árbitro, compreendeu. Ela só o viu cinco minutos depois, no carro, esbaforido e suado na testa.

Ele havia apitado na noite anterior um jogo do Palmeiras, e deixou de assinalar um pênalti claríssimo para o time verde e branco, como depois notou pela televisão. Pois tinha acabado de ver, ali no mercado, fazendo compras, um atacante palmeirense. Só não tinha certeza de qual: - “Eu vi de longe, não pude perceber as feições corretamente. Mas tenho certeza que era um dos dois: o Paulo Nunes ou o Oséas!”.