quinta-feira, 5 de novembro de 2009

3 - O torcedor da Portuguesa

Você percebe que seu time está se apequenando quando, ao dizer que torce por ele, a pessoa pergunta por quê.

Sabemos que torcer por um time nada tem a ver com critérios objetivos. Meu irmão torce pelo São Paulo por causa do meu avô materno. Eu torço para o Palmeiras por causa do meu pai, que torce pelo Palmeiras a despeito do meu avô paterno, o pai dele, torcer pela Portuguesa. Este meu avô torce para a Portuguesa porque é português. O irmão dele, o Jaime, torce pelo São Paulo, apesar de já ter sido dirigente da Portuguesa e também ser português. O Jaime é casado com uma mulher que é palmeirense, que torce pelo Palmeiras porque gosta de verde, e o nome dela é, acredite, Rosa.

Mas eu vou falar do Paulo, uma pessoa que, assim como meu avô paterno, torce pela Portuguesa. Ele não tem motivo nenhum para isso. O pai dele é assexuado: não torce para time nenhum. A mãe é uma corintiana passiva, por causa dos irmãos. E o Paulo adotou a portuguesa.

Desculpe interromper, mas há duas formas de se torcer para um time. A primeira é biológica, quando escolhemos o time de nossos pais ou avós. O gene do time pode repetir a geração, quando repetimos o do pai; ou pode pular uma geração, quando torcemos pelo do avô. Pode ser que ele pule várias gerações. É o caso de quando torcemos pelo time daquele nosso parente distante.

Mas podemos também adotar um time. É quando não há nada nem ninguém que nos leve a torcer por um time, e mesmo assim o escolhemos. E não pense que é por ele ser melhor, mais competitivo ou atraente. Escolhemos por compaixão. Aliás, podemos até escolhê-lo por ele ser o melhor e mais atraente. Mas é como amar uma mulher que é só bonita: E daí? A adoção mais digna é aquela de quando não se olha para qualidades. As qualidades ou defeitos se tornam apenas características daquilo que a gente gosta, daquilo que a gente ama. É assim que Paulo escolheu a portuguesa.

Quando o conheci, ele me contou logo que torce pela Portuguesa. Eu, como quem não tem medo, perguntei o por quê dessa opção. Ele não entendeu:

- Como, por quê?

Eu percebi neste momento que a minha pergunta foi tão estúpida como se perguntasse a uma mulher por que ela adotou justamente a criança mais feia, ou a que estava doente. É verdade: assim como o amor entre duas pessoas feias pode ser muito mais bonito, a relação de um torcedor com um time ruim também é muito mais bela.

Não que a Portuguesa seja ruim. Que isso.

Um comentário:

Ester disse...

Amei! Preciso dar pro meu pai pra ler (ele torce p/ portuguesa)