quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

3 - Torcer pelo Santos


Está decidido. Por sete votos a seis, se Peter Griffin tivesse nascido no Brasil, o time dele seria o Santos.

Como santista, é bom que Peter saiba que torcer pelo Santos é saber que alegria tem preço.

Quando Pelé chegou ao Santos em 1956, a cidade aliviou-se. Era a certeza de que aqueles anos de profunda inferioridade à capital estavam terminando. Para ver o campeão, os paulistas precisariam descer a serra. Para ver o rei, os cariocas teriam que cruzar a Rio-Santos – que nem existia à época.

Não houve quem não se encantasse com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Aquele time, um escrete com pedigree, deu, em 1962 e em 1963, o título de melhor do mundo ao alvinegro praiano. Mas isto apenas confirmava o que já era de conhecimento universal. Aliás, quando aquele time não era campeão, tinha-se a certeza de que alguma injustiça se passara no meio do caminho. E hoje vemos alguns títulos ganhos por outrem com o mesmo espanto de um concurso literário dos anos 30 em que Fernando Pessoa participou e perdeu para um desconhecido.

Mas Pelé foi embora. E o time não ficou apenas sem seu principal jogador. Ele perdeu também todo aquele incremento que a presença de Pelé dava a seus companheiros. Não havia jogador inseguro ao lado de Pelé. A habilidade do rei era, desculpe, contagiante. Os jogadores de belíssimo passe começaram a errar irritantemente, os gols feitos já não eram tão feitos assim. Até o goleiro! Até ele começou a falhar em lances antes tão simples.

O Deus medo prevaleceu no coração do santista. E fez pagar em dobro toda a volúpia e todo o prazer. Os aproximadamente 15 anos com Pelé e títulos foram pagos com quase 30 sem os dois. A Vila Belmiro, antes palco de vitórias e júbilo santista, virou lugar de incertezas e saudade. É por isso que o torcedor santista virou, ora veja, viúva de Pelé.

Pelé tornou-se a defunta do coração preto e branco. E de tanto caçoarem da morta, surgiu, em 2002, seu verdadeiro filho – Robinho, trocado na maternidade com Edinho -, que prometia cumprir tudo à Sua semelhança. Os tempos são outros, e Robinho ficou por apenas três anos no Santos. E não jogou tão bem quanto Pelé. O santista, porém, sabe que isto é motivo de alegria e comemoração.

“Ainda bem que ele não foi tão bom quanto Pelé”, ouve-se na Vila Belmiro, “e aquele time não chegou a ser bi-campeão do mundo. Senão, teríamos a certeza de que seriam mais trinta anos, trinta!, de desespero e angústia”.

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