sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os 500 jogos de Marcos pelo Palmeiras


Ontem meu amigo Thiago me repreendeu com veemência. Ele achou um absurdo que eu, um palestrino xiita, tivesse um blog futebolístico e não mencionasse o fato de Marcos completar 500 jogos com o manto. Ele disse que Deus há de me perdoar por isso, mas ele e o Palmeiras, não!

Rapaz, eu tenho evitado ser muito palmeirense neste espaço. Aliás, este é para ser um blog frio e calculista – porque não há nada mais ridículo que uma opinião. Mas porque eu prefiro perder o lugar no paraíso a não poder mais entrar no Palestra, republicarei aqui um texto que redigi em outro canal há algum tempo.

Tinham pedido que eu fizesse uma comparação de Marcos com Rogério Ceni. Eu fiz este texto mais como uma provocação, com a certeza de que pediriam para mudar. Mas no dia, não sei por quê, ninguém falou nada e saiu publicado assim mesmo. É somente uma homenagem ao Marcos, que faz muito bem em repudiar ser comparado sempre a Rogério Ceni.

Ah! Eu ia desenhar um Marcos com caneta Bic, mas o mosaico que a torcida do Palmeiras fez ontem com o rosto de Marcos só não foi mais bonito que o gol do Marcos Assunção aos 44 do segundo tempo. Então que vejamos o mosaico, ora pois.

Vamos ao texto:


O cidadão brasileiro pode ter vários vícios. Muitos deles fumam cigarro, outros elogiam o cabelo da Ana Maria Braga. Há também os que aceleram muito quando estão dirigindo… Mas nenhum vício é maior, nem acomete tantas pessoas, quanto o de sempre comparar Marcos a Rogério Ceni. Das mais tenras crianças aos mais caquéticos velhos, nós todos temos a incapacidade de falar de Marcos sem citar o rival.

Eu achava até que Marcos já estava acostumado com isso. Mas meu engano foi maior que o de um marido traído. Em sua resposta ao comentário de Neto, que, claro, havia comparado os dois, Marcos foi tão duro quanto correto, e certamente muitos evitarão compará-los tão cedo. Ninguém esperava palavras tão duras vindas de boca onde se costumava ouvir piadas e simpatias. Mas convenhamos, Marcos tem razão. Senão vejamos.

Marcos não pode ser comparado a Rogério Ceni em questão de títulos. Se Rogério é tri campeão Brasileiro e tem uma Libertadores e um Mundial, Marcos tem uma Libertadores jogando pelo Palmeiras com um destaque nunca visto antes em um goleiro. Fora isso, Marcos ganhou a copa do Mundo jogando de titular, deixando o próprio Rogério no banco. Aliás, se não fosse por Marcos, tenho sérias dúvidas se teríamos cinco estrelas acima do escudo da CBF.

Marcos não pode ser comparado a Rogério Ceni em sua habilidade como goleiro. Está certo que Rogério é ótimo, mas Marcos é muito mais que isso. Marcos é um santo, e assim sendo, só uma comparação com os demais mortais já é um pecado comparável ao original. Ele já salvou jogos em que o Palmeiras já havia sofrido até a extrema unção!

Marcos não pode ser comparado a Rogério Ceni por sua simpatia. Enquanto Marcos é adorado por todas as torcidas – inclusive pela corintiana, que sofreu tanto nas mãos do goleiro! -, Rogério é muito mal visto por sua arrogância. Enquanto um gol sofrido por Marcos é sofrido por mais de uma torcida, o sofrido por Rogério é comemorado por todas elas.

Marcos não pode ser comparado a Rogério Ceni porque sempre que os dois tomam um gol, eles levantam o braço. O Marcos levanta o braço para assumir a culpa pelo gol sofrido; o Rogério, para reclamar impedimento.

Ah, sim. Dizem que Rogério bate faltas melhor que o Marcos. Mas não sei de onde tiraram isso, já que Marcos nunca bateu uma falta! Como saber quem é melhor, se nunca houve base para comparação?! Eu, hein!

O Corinthians não tem Libertadores. E daí?

Uma das vantagens de ser um jornalista desempregado – além de poder fazer cocô a qualquer hora – é poder escrever os textos depois de alguma digestão dos fatos. Por exemplo, já faz dois dias que o Inter ganhou a Libertadores, e só agora vou falar sobre este campeonato.

É que parecia que estava tudo desenhado para que esta Libertadores fosse do Corinthians. Seria uma redenção perfeita: no ano de seu centenário, o Corinthians conquistaria o título que lhe falta. A Libertadores parece tão intangível ao Corinthians a ponto desse time ter vencido o Mundial sem ter levado a Libertadores. É como alguém que casa com uma pessoa sem nunca tê-la namorado! Ou um sujeito que chega à seleção do país sem ter chegado à titularidade na própria equipe. Ou um relógio que chega na meia-noite sem passar pelas dez.

Mas o Flamengo eliminou o Corinthians, e na quarta-feira o Inter foi campeão.

Perambulam pelas ruas muitas chacotas aos corintianos. Dizem que até o Celso Roth é campeão da Libertadores, mas o Corinthians, não. Que o Corinthians só vai ganhar a Libertadores no mesmo dia em que construir o próprio estádio. Enfim, hoje o que mais atormenta o torcedor corintiano são essas duas coisas: não ter Libertadores nem estádio.

Mas isto não é uma particularidade alvinegra. Fiz dois conjuntos: um dos que não têm estádio e outro dos que não têm Libertadores. No meio, a interseção: os que não têm Libertadores, nem estádio, como é o caso do Corinthians.

Vejamos:


Em minha modesta e questionável opinião, este complexo corintiano se deve ao torcedor são-paulino, que tanto exalta seu estádio e suas Libertadores. Mas o corintiano precisa entender que não se mede grandeza de time por sala de troféus ou por grandeza do estádio. Da mesma forma que o corintiano gostaria de um estádio como o Morumbi e de uma taça como a Libertadores, o são-paulino gostaria de uma torcida que prescindisse de tamanhas posses para ser tão apaixonada.

PS1¹- Aqui cabem algumas ressalvas. Dirão que o Botafogo tem um estádio, mas se o General Severiano pode ser considerado um estádio, a Fazendinha também pode. Por isso, adotei o critério de que clube sem estádio é aquele que não tem um estádio nas proporções de suas tradições. Daí a Portuguesa Santista ter um estádio – o Ulrico é tão pequeno quanto a Fazendinha e o de General Severiano, mas está à altura da tradição da Briosa.

PS² - Muita gente também acha que o Fonte Nova pertence ao Bahia, mas ele pertence ao Governo Estadual da Bahia da mesma forma que o Pacaembu pertence à Prefeitura de São Paulo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Silvio Luiz em castellano

Outro dia postei aqui uma entrevista de uma pergunta só com Silvio Luiz, o último narrador ingênuo do futebol.

Pois bem. Não é que hoje acho um Silvio Luiz falsificado em espanhol? Não sei se ele é chileno, argentino, espanhol ou o que quer que seja. Ele é da Fox Sports, e quando é gol, imita o Silvio Luiz em tudo!

“Éééééééé de Palmeiras! Fue, fue, fue, fue, fue el! Tadeu!”

Confira comigo no replay:

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Entrevista de uma pergunta só: Silvio Luiz

Talvez não seja exagero dizer que os jogadores de futebol dos nossos tempos são exatamente o contrário de Garrincha.

Não falo da parte futebolística – embora que se vissem Garrincha driblando para trás, ele seria condenado à forca -, senão no que diz respeito ao comportamento do jogador em campo e fora dele. Porque Garrincha era ingênuo. Ingênuo e despretensioso.

E veja só que curioso. Ingenuamente e despretensiosamente, Garrincha conquistou o mundo duas vezes. E nossas duas últimas seleções, megalomaníacas e agressivas, caíram melancolicamente nas quartas-de-final. Por isso, pensei: será que não é isso que está faltando à nossa seleção: ingenuidade?

O primeiro nome que me veio à cabeça foi o de Obina. Obina, o último ingênuo do futebol. Porque assim como Garrincha, Obina não sonha com a Europa. Ele está muito feliz no Atlético, assim como Garrincha gostava do Botafogo, mas se deliciava mesmo era no Pau Grande FC. Assim como Garrincha, Obina vê o futebol antes como um divertimento do que uma responsabilidade. Assim como Garrincha, Obina joga acima do peso – mas por acarajé, não por álcool.

E assim como Garrincha, Obina é Manoel.

Para descobrir se ele deve mesmo ser convocado à seleção, resolvi fazer a primeira entrevista de uma pergunta só deste blog e deste mundo com Silvio Luiz.

Silvio não foi escolhido à toa. Ele é o único narrador esportivo brasileiro que não trata o futebol como assunto de segurança nacional. Num esporte em que ninguém mais dribla ninguém, a narração de Silvio é uma das únicas formas de divertimento. Talvez o único modo suportável de acompanhar um jogo ruim de time dos outros seja pela voz de Silvio. Sabendo disso, a Band Sports o coloca para narrar jogos dos campeonatos Português e Turco. Seria Silvio o último ingênuo dos narradores?

É por isso que fiz a ele a tal questão sobre uma possível convocação de Obina ao nosso escrete.

Eu não sou mané, Garrincha!: Qual é o papel de Obina na formação da seleção brasileira que disputará a Copa de 2014?

Silvio Luiz: Você deve estar de brincadeira.

A coisa está feia: nem os ingênuos aceitam mais a ingenuidade.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ronaldinho não pode errar

Bom dia, meu caro amigo internauta. Gostaria de agradecer por todos os comentários que têm sido postados ultimamente neste blog. Se isto não é sucesso, então não sei o que significa esta palavra de três sílabas.

Eu estava disposto a dormir tranquilamente na última sexta-feira, quando apenas ouvi o seguinte, no Jornal da Globo. A Narração é de William Waack:

“Na Europa, Ronaldinho Gaúcho é destaque positivo e negativo em torneio disputado em um único dia. Os jogos tinham apenas 45 minutos. No confronto entre Milan e Juventus, Ronaldinho fez um belo gol. Na decisão por pênaltis, contra o (sic) Inter, coube a ele a última cobrança, tentou a cavadinha... E enterrou o time. O título ficou com o (sic) Inter.”

Os sic´s que relatei no texto são um preciosismo xiita. Implicâncias, mesmo. É que ele estava se referindo à Inter de Milão, então deveria dizer que era “a” Inter, não “o” Inter. O Inter é o de Porto Alegre, aquele que está a disputar a final da Libertadores e que tem o Celso Roth, um gaúcho sem bigode, como técnico.

Mas esta fala originou este post por outra questão.

O torneio disputado em um único dia a que se referiu William é o troféu Birra Moretti. É um campeonato que reuniu, em Bari, três dos grandes italianos: Inter, Juventus e Milan. Cada jogo era disputado em um único tempo, e se acabasse empatado, a disputa iria para os pênaltis. O vencedor no tempo normal levava três pontos, o vencedor nos pênaltis somava dois, e o perdedor dos pênaltis ganhava apenas um.

- E o empate? Você se esqueceu do empate! – interrompe o leitor.

Não, amigo leitor. Não há empate, porque o empate leva aos pênaltis.

- Ah, é mesmo! Continue, por favor.

Pois não. No primeiro jogo, a Inter de Milão venceu a Juventus por um a zero. No segundo, Milan e Juventus empataram em um a um – quando Ronaldinho fez o gol mencionado por William. E na decisão por pênaltis, Ronaldinho bateu o pênalti muito bem, no ângulo. Uma cobrança que nem o Yashin num dia inspirado defenderia. O Milan venceu nos pênaltis e eliminou a Juventus.

E o último jogo, entre Milan e Inter, terminou em zero a zero. Este resultado dava automaticamente o campeonato à Inter de Milão, mesmo se o Milan vencesse a decisão por pênaltis – já que ambos empatariam com quatro pontos, mas a Inter levaria vantagem no saldo de gols. Então, as cobranças por pênaltis eram apenas figurativas – ou, como diria meu tio avô, para cumprir tabela.

O Milan já perdia a decisão por pênaltis por quatro a dois – Flamini havia errado – quando Ronaldinho tentou dar uma cavadinha espetacular e perdeu.

Por isso, ao contrário do que disse William, o Ronaldinho não enterrou o Milan. O Milan já estava enterrado, e ele resolveu brincar na última cobrança. Sim, porque não foi uma paradinha convencional – como a de Loco Abreu, Neymar e Djalminha. Foi uma cavadinha anabolizada: a bola não foi para o centro do gol, mas para o ângulo. Porém, acertou a trave, e William foi duro com ele no Jornal da Globo.

Por que tanta dureza com um gênio na hora da invenção? Parece que nos últimos tempos, a ousadia tem o êxito obrigatório. Porque se ele batesse normalmente e perdesse, não haveria grandes comentários, por certo.

Talvez Ronaldinho esteja enjoado de futebol por causa disso: porque só os medianos têm o direito de errar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Celso Roth 2 litros

Uma das famas mais injustas do futebol brasileiro é a de Celso Roth – dizem que ele é como um refrigerante de dois litros, que é bom no começo, mas perde o gás no meio. Ora, convenhamos que conseguir consistência por um longo período num Grêmio de Anderson Pico, Tadeu e Jonas é praticamente impossível. Ou então que o Atlético do ano passado, que tinha Diego Tardelli como o grande nome, não era referência de um bom elenco.

Porém, mesmo as famas mais injustas têm argumentos sólidos que as sustentem. Se o Grêmio era tão ruim assim, por que conseguiu 44 pontos no primeiro turno do Brasileirão do ano retrasado? E o Atlético, que não tinha craques, também possuía um elenco que permitia brigar, no mínimo, pela Libertadores.

Então, para que não haja mais dúvidas, estudei métodos eficazes de retenção de gás em refrigerantes de dois litros. Após dominar todas as técnicas, adaptei-as ao futebol moderno e ao Celso Roth, para que o Inter tenha um grande time por mais tempo. Porque se o título da Libertadores já parece inevitável, há ainda um longo caminho até o Mundial.

Primeiro e muito importante: não compre Celso Roth em garrafas grandes. Além de garrafas que suportam mais de dois litros dificilmente caberem nas geladeiras, elas são obrigadas a ficar deitadas – caso couberem. E isso é fatal.

“Fatal” é exagero. Mas uma garrafa deitada segura tanto gás quanto um coelho de botas. Então, nunca deixe o Celso Roth deitado na geladeira. Quando ele se deita, uma parte maior da superfície de seu corpo entra em contato com o ar. E adivinhe: é pelo ar que o gás se dissipa. Por isso, ele deve ser mantido sempre de pé, e se possível aperte-o – amasse um pouco, mesmo – para que a área de contato seja reduzida ao extremo.

Outro cuidado muito importante é o de nunca abrir o Celso Roth enquanto ele estiver quente. É sabido que o gás se dissipa muito mais facilmente quando em temperaturas elevadas. Então é melhor deixá-lo na geladeira – ou até mesmo no freezer – antes de abri-lo. Duas horas no freezer ou oito horas na geladeira serão suficientes.

Por último, o mais óbvio – mas também mais importante – é nunca esquecê-lo com a tampa aberta. Isto seria de uma distração tão absurda quanto a de um diretor de presídio que abre as grades de sua cadeia de vez em quando. E assim como o diretor do presídio só autoriza a abertura das grades para a entrada e saída de presos, só se deve abrir a tampa de Celso Roth para a entrada e saída de líquidos.

Desta forma, não garanto que Celso Roth nunca perderá seu gás. Grandes mestres, como Rubens Minelli, Oswaldo Brandão, Feola e Ênio Andrade já perderam o gás um dia. Porém, com estes cuidados, isto demorará muito mais tempo para acontecer.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

As placas de publicidade de Estados Unidos contra Brasil

Eu dizia cá no blog, no último post, que o futebol não pode dar certo nos Estados Unidos.

Depois da última Copa, parecia que o interesse dos Estados Unidos por este esporte daria uma grande guinada, pois eles conseguiram a façanha de empatar com a Inglaterra e de conseguir a classificação no último minuto, com gol de Donavan.

Pois bem. O amistoso de hoje deveria ser um marco disso, uma verdadeira redenção.

Mas, independente do resultado do jogo, nem os americanos levaram este jogo a sério. Resolvi fazer um levantamento das marcas estampadas nas placas de publicidade à beira do campo, e eis o resultado:

Anúncios voltados unicamente para o público brasileiro (12): Netshoes, Brahma, Burger King (a despeito da marca ser americana, o anúncio era feito em português), Embratel, Pitágoras, Itaú, Microlins, Copagaz, Makro, Unimed, Wizard, Supergasbras e PFC.

Anúncios voltados exclusivamente para o público americano (6): AT&T, Soccerstore.com, Globo Internacional, T90 Racer, e Buck´s.

Anúncios voltados para ambos os públicos (10): Topper (o slogan da marca era traduzido ao espanhol e ao inglês, além do português), Gatorade, Hyundai, Budweiser, Rexona, Mcdonalds, Visa, Castrol, Pepsi e Pestana.com.

É preciso ressaltar que o jogo não foi sequer transmitido na TV aberta do Brasil. Aqui, quem quisesse assistir à partida precisaria ter acesso a TV a cabo ou a internet. Ao contrário dos americanos, que tiveram o jogo à disposição na TV aberta, e pombas, o jogo era num estádio americano!

Simplesmente havia o dobro de anúncios voltados exclusivamente ao público brasileiro do que de anúncios voltados ao público americano: 12 a 6. Os patrocinadores americanos mostram que ainda vai demorar muito, mesmo, para que o futebol seja um esporte interessante por lá.

Nem o futebol brasileiro empolga nos Estados Unidos

Está certo que um jogo com Ganso e Neymar seja quase sempre empolgante, mas no primeiro tempo de Estados Unidos x Brasil, peguei-me um pouco entediado. No começo achei que era porque o jogo valesse mais para eles do que para nós. Os americanos perderam nas oitavas, mas saíram com uma boa moral da Copa, enquanto nós perdemos nas quartas, mas saímos devastados.

Não era isso.

Porque havia pela primeira vez desde 1982, a chance de uma nova perspectiva futebolística de nossa seleção. Não é que procuramos um futebol bonito – procurar beleza no futebol é como uma mulher procurando beleza através da cirurgia plástica. Procuramos um futebol leve. E veja bem: Lucas, Ramires; Ganso, Robinho; Neymar e Pato não é só um time leve. É um time anoréxico!

Como nem isso me empolgou, logo notei o motivo. Os americanos ainda não são capazes de criar uma atmosfera propícia ao futebol no estádio. Por vários motivos.

Nota-se logo de cara que a arquibancada atrás do gol começa com três metros de altura, algo típico para jogos de futebol americano. Depois, e principalmente, que o público não vibra proporcionalmente às jogadas. É um público disperso, desconcentrado, que passa mais tempo conversando do que assistindo ao jogo. Tanto que demoram um pouco para comemorar um gol.

E fica difícil mesmo de assistir a um jogo ambientado nos Estados Unidos. O estádio custa mais de um bilhão, o ingresso custa caro, ali havia duas seleções de Copa do Mundo, mas era um jogo insuportável. É melhor ver um jogo da terceira divisão no estádio da Juventus (Mooca) do que um jogo de Copa do Mundo nos Estados Unidos.

Por isso, talvez seja melhor desistir. O futebol será um sucesso nos Estados Unidos no mesmo dia em que o beisebol for um grande sucesso aqui no Brasil.

No próximo post, uma prova concreta sobre essa teoria.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Muricy Ramalho, um homem de palavra

Não é raro que um treinador seja demitido no Fluminense. Do ano 2000 até hoje, houve 23 mandatos de técnico no clube carioca – na média, um técnico a cada cinco meses. Digo mandato, porque alguns repetiram, como Parreira (três vezes), Renato Gaúcho (três vezes), Cuca (duas vezes), Oswaldo de Oliveira (duas vezes), Valdir Espinosa (duas vezes) e Joel Santana (duas vezes).

No ano passado, o Flu foi dirigido por quatro técnicos diferentes. Em 2006, foram cinco. Em 2002, 2004 e 2008, foram três por ano.

E você deve imaginar que não é simples demitir um técnico. Porque o contrato de treinador não é feito como um empregador e um empregado comum, quando o sujeito está contratado por tempo indeterminado, e ao ser demitido recebe as férias proporcionais, o décimo terceiro proporcional e o aviso prévio. Com um técnico de futebol, o tempo de contrato é determinado. E quem encerrar este vínculo antes do prazo deve pagar uma multa rescisória. No caso de uma demissão, como as que o Flu está acostumado a fazer, é ele quem deve arcar com esta multa.

Ao final de 2006, como se deve imaginar, o clube estava pagando as multas rescisórias dos quatro treinadores demitidos no ano mais o salário do quinto – que só seria demitido em 2007.

Pois bem. Ricardo Teixeira convidou Muricy para ser técnico da seleção, ao que este recusou, alegando que tinha um contrato de dois anos apalavrado com o Fluminense – que se somaria ao fim de seu contrato atual com término em dezembro deste ano. Se tudo ocorrer conforme a média dos últimos dez anos, o Fluminense demitirá Muricy daqui a um mês (ele já está no quarto mês de contrato), e a multa recisória será equivalente a dois anos e três meses de contrato.

E se juntará às 10 parcelas de 300 mil reais que Muricy ainda tem a receber do Palmeiras.

Dizem que Muricy abriu mão de dirigir a seleção – sonho de todos os treinadores – por não abrir mão de sua palavra com o Fluminense. Mas ao cumprir sua palavra, ele se coloca na eminência de receber uma multa rescisória tão gorda, que poderia cantar na Fat Family.

Tudo bem, Muricy é um homem de palavra. Mas não vamos negar: ele é também um homem de negócios!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O abecedário da torcida brasileira apresenta: André, o palmeirense

O abecedário da torcida brasileira conta histórias mais ou menos verídicas.

*

Tem histórias que aparentemente não fazem sentido. Vide o caso de Adão e Eva. Eles passaram anos, séculos reclamando de Deus, fazendo-O passar por vilão. Até que alguém explicasse à humanidade que Deus, o pai do amor, não seria tão mal à toa. Ele expulsou o casal nu do paraído porque comeram aquela maçã cultivada com tanto carinho por séculos a fio. Justamente aquela, a preferida do Todo Poderoso.

Pois bem. Uma coisa não fazia sentido na vida de André. Ele era um palmeirense tão fanático, a ponto de ser um carnívoro pelo mesmo motivo que os vegetarianos são vegetarianos. Quer dizer, pelo motivo contrário. Os vegetarianos comem vegetais pela compaixão que tem com todos os animais. André era carnívoro por compaixão com tudo que é verde.

- Como eu poderia comer um alface sabendo que ele é da mesma cor do meu Palestra?! – dizia, se exibindo.

Está certo. Se alface tivesse gosto de lasanha, ele encontraria outras formas de explicitar a devoção ao time. Mas também não fazia esforço para gostar do legume. E jurava a quem aparecesse, com argumentos convincentes e sociológicos, que Popeye é desenho mais diabólico do que aquele criado pelos nazistas.

Mas André nutria uma incerteza dentro de si. Ele teve um cachorro por quem teve uma paixão que só uma criança pode ter por um animal. André o imitava na forma de deitar, mesmo sendo anatomicamente desconfortável; latia para o barulho, ficando rouco várias vezes; e até comia ração de vez em quando, cujo gosto era mais pavoroso do que o do alface. Este cachorro nasceu em 1993, e tinha o nome de Cafu.

O leitor mais futebolizado deve estar percebendo a grande incoerência deste relato. Em 1993, Cafu era jogador do São Paulo, não do Palmeiras! Isso se disfarçava um pouco pela passagem que Cafu teve no Palmeiras em 1996. Mas o cachorro já tinha nome aos 3 anos de idade! Enfim, era um caso sério que secretamente lhe atormentava. Como pôde consentir com um nome são-paulino a seu cão? Será que aos 6 anos não gostava do Palmeiras tanto assim? Então ele não poderia dizer que era palmeirense desde criancinha?

A coragem foi-se juntando dia a dia como um porquinho que se enche de moedinhas ao passar dos anos. E chegou o dia de quebrar este porquinho de uma vez por todas. E perguntou à mãe:

- Mãe! Como eu deixei que o Cafu se chamasse Cafu se ele não jogava no Palmeiras?

A mãe achou graça da desmemória do filho:

- Você não deixou que ele se chamasse Cafu, André! O nome de verdade dele era Cafuzinho. Cafu pelo jogador do São Paulo, o time do seu irmão. E Zinho pelo jogador do Palmeiras!

Assim, a história completou o sentido para todos os sempres. Mas o principal é que André pôde voltar a torcer ao Palmeiras sem a culpa de um pecado original.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A melhor diretoria do Brasil

O São Paulo não precisaria ter vendido o Hernanes. Acompanhe o raciocínio.

A diretoria do São Paulo diz que vende jogadores para financiar o time, porque o futebol brasileiro não seria viável, atualmente, sem a venda de jogadores. Por isso, vendeu Hernanes a 9,5 milhões de euros. Destes 9,5 milhões, 75% pertencem ao São Paulo. Então 7,125 milhões de euros entraram no cofre tricolor: aproximadamente 16,5 milhões de reais.

Pois bem. Neste ano, o São Paulo recusou todas as ofertas de patrocínio na camisa até agora. O diretor de marketing do clube, Adalberto Baptista chegou a rechaçar uma proposta que considerou boa para o Corinthians - que não vence o Campeonato Brasileiro desde 2005 -, não para o São Paulo - que ganhou três Brasileirões nos últimos anos, mas tem apenas dois terços da torcida corintiana.

Se a oferta que o São Paulo recebeu e recusou for idêntica à que a diretoria corintiana recebeu e aceitou da Hypermarcas - aproximadamente 38 milhões de reais ao ano -, o dinheiro obtido pelo São Paulo com este patrocínio desde que a LG deixou de estampar sua marca no peito são-paulino até o dia de hoje seria superior ao valor recebido pela venda de Hernanes.

Isso mesmo. A LG saiu no dia 15 de Janeiro, há 201 dias. Se em um ano o São Paulo recebesse 38 milhões, nesses 201 dias receberia quase 21 milhões de reais. Dinheiro suficiente para prescindir da venda deste jogador – com 4,5 milhões de reais de lucro. E para ele não ficar insatisfeito, seria possível lhe oferecer um aumento de 75 mil reais por mês durante cinco anos com os 4,5 milhões que sobrariam.

O que vale mais? Uma camisa limpa sem Hernanes, ou uma camisa borrada pelo patrocínio ostentada por um craque do quilate de Hernanes? O São Paulo já fez a opção dele.

Futebol cor de rosa

O Everton lançou neste ano uma camiseta que o site oficial do clube considera revolucionária. Não é que ela tenha asas no lado, nem que seja colada ao corpo como aquela de Camarões. Também não tem um Che Guevara estampado no peito. A camisa é revolucionária porque tem a cor rosa.

Sim, amigo leitor. Rosa como a cor deste blog – que por sua vez possui esta cor porque supostamente nenhum time veste rosa.

E foi só pesquisar um pouco para descobrir que o rosa é – ou já foi – cor de diversos clubes e seleções pelo mundo. Quanta decepção! Agora preciso de outra cor que nenhum time utilize.

Quem sabe o bege?

Pois fiz uma vasta pesquisa de três minutos pela internet para encontrar algumas camisas da cor revolucionária do Everton. Veja:

O rosa do Atlético Mineiro:



O rosa do Everton:



O rosa da Juventus:



O rosa do Sevilla:



O rosa do Barcelona:



O rosa do Rio Branco de Campos:



O rosa do Benfica:



O rosa da Escócia:



O rosa do Peru:



E por que não? O rosa do árbitro Margarida:

A pureza do brinquedo

“O futebol já foi retocado diversas vezes em suas regras e táticas; vencendo quem vencer esta Copa, a sensibilidade popular está demonstrando que o futebol precisa de uma revolução radical para salvar-se como espetáculo das multidões.

E se não quiserem mexer nas regras, para salvar o futebol, há outra solução, embora utópica: acabarem para sempre com os técnicos. Sem técnicos, talvez a rapaziada conseguisse devolver ao futebol a pureza do brinquedo.”


Veja só que engraçado, meu amigo leitor. Este texto acima entre as aspas não foi escrito neste ano, durante a Copa do Mundo que correu o risco de ter a menor média de gols da história. Nem no ano retrasado, em que o São Paulo quase foi o campeão brasileiro com a melhor defesa de todos os tempos. Não é ninguém falando das declarações de Muricy, que mandou ao circo quem quisesse ver espetáculo. Também não se trata de Felipão voltando ao Palmeiras como ídolo, nem de Luxemburgo recebendo 700 mil reais no Atlético Mineiro. Não pense, pois, que o sujeito acima está revoltado com os que se encantaram com o futebol vistoso da Espanha na Copa do Mundo desde ano que marcou tantos gols quanto Ronaldo sozinho em 2002.

Este é um pedaço de um texto de Paulo Mendes Campos escrito em 1974.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O time do jornalista



Ainda bem que Deus, entretido em sua engenharia, resolveu dar dedos aos pés. Porque é graças a eles que posso dizer com provas estatísticas que sou capaz de contar os leitores deste espaço utilizando meus próprios dedos! E é a todos estes leitores que peço um momento de tolerância para abordarmos um assunto jamais tratado aqui: sexo.

Não falaremos do sexo em si. Usaremos este assunto tabu somente como base para uma comparação futebolística.

Aliás, este blog é quase um sexagenário, e ainda não falou sobre sexo. Se a única fonte que um ET tivesse sobre a cultura humana fosse este blog, ele não saberia que nós nos reproduzimos sexuadamente. Assim como muita gente defende que o ensino sexual seja obrigatório nas escolas, eu proporia aqui que o assunto sexo seja obrigatório em todas as mídias que tratam de futebol.

Não porque sexo e futebol sejam as duas melhores coisas do mundo – se existe algo melhor do que lasanha, eu desconheço -, mas são os assuntos obrigatórios, para onde todas as conversas se encaminham. Pensem nos portugueses conquistadores em suas caravelas. Se não fossem o sexo e o futebol, eles não teriam do que falar.

Mas o futebol foi inventado apenas no século XIX – dizem os leitores mais atentos.

Não é bem assim. Se consultarmos os livros de Nelson Rodrigues, veremos que o clássico Fla-Flu surgiu quinze minutos antes do nada. E como o futebol surgiu aproximadamente 49 anos antes do Fla-Flu, podemos dizer que o futebol surgiu 49 anos e 15 minutos antes do nada. Portanto os portugueses das caravelas falavam, sim, sobre futebol.

Toda esta profunda introdução foi feita para explicar por que os jornalistas devem falar qual é o time pelo qual torcem.

Hoje, o que mais se vê, quando um jornalista é entrevistado (?!) é o entrevistador pedindo quase desculpas por lhe perguntar o time. Isso, quando este assunto é abordado. Geralmente, o entrevistador não toca nesse assunto, como se o jornalista time não tivesse.

Este é talvez um dos maiores absurdos da humanidade. Seria o mesmo que o doutor Jairo Bouer, após anos falando sobre sexo na televisão e em sua coluna no jornal, dissesse:

Sou virgem! Mas vocês podem ouvir meus conselhos sexuais, porque estudei muito sobre o tema.

Aqui não pedimos para que o jornalista fique falando sobre o time dele a todo instante. De novo, seria tão absurdo quanto a possibilidade de o doutor Jairo ficar dizendo sobre as posições preferidas dele e sobre as pessoas com quem se relacionou sexualmente.

E diferentemente do que o leitor e os jornalistas podem pensar neste instante, não é para que desconfiemos de favorecimento na abordagem dele sobre o próprio time. Até porque os jornalistas fazem exatamente o contrário: elogiam o time dos outros como se fossem verdadeiros carrosséis holandeses e criticam o próprio a todo instante como se um ataque capcioso e envolvente fosse uma reles Itumbiara. Justamente para não levantar suspeitas.

O jornalista deve dizer o próprio time unicamente para que o público saiba que ele, graças a Deus, tem um time. E que não fala de futebol da mesma forma com que um sexólogo virgem falaria sobre sexo.